Roger Waters comenta ‘The Dark Side of the Moon’ faixa a faixa
No mesmo ano em que Roger Waters completa oito décadas de vida, um dos discos mais icônicos do Pink Floyd, banda que montou com os guitarristas David Gilmour e Syd Barrett, o tecladista Richard Wright e o baterista Nick Mason na década de 1960, ‘The Dark Side of the Moon’ completa 50 anos. A celebração em torno do oitavo disco de estúdio da banda levou Waters a lançá-lo numa releitura versão ‘redux’.
O álbum chega às plataformas na primeira semana de outubro. Em entrevista exclusiva ao GLOBO (também disponível, em inglês, no site oficial de Roger Waters), o compositor comenta faixa a faixa do disco e relembra o lançamento do trabalho original há 50 anos.
Entrevista ao Brasil
Assim como a fonte primária do jornal brasileiro, resolvemos separar o corpo principal da entrevista (leia aqui) do trecho em que Waters faz breves comentários sobre todas as músicas (leia abaixo).
Quais as melhores lembranças de “DSOTM”?
Posso te contar faixa a faixa?
Claro!
“Speak to Me”
É a batida do coração, a vida.
“Breathe”
A busca do amor, e, no verso “corra, coelho, corra”, do dinheiro, de enriquecer.
“On the Run”
É a oposição entre bem e mal.
“Time”
O tempo que, inevitavelmente, nos escapa. Ainda que, um dia, nos encontre. Mas não se iluda, este encontro será sempre depois do “tempo ideal”, pois nós, e não ele, estamos sempre atrasados.
“The Great Gig in the Sky”
O paraíso e o inferno, o medo da morte.
“Money”
Os perigos do pacto faustiano, vender a alma por dinheiro.
“Us and Them”
Grita que há apenas uma raça, a humana, somos originalmente africanos e parentes uns dos outros.
“Any Colour You Like”
O universal fardo das escolhas. Somos bombardeados com opções: qual a próxima nota da música? E a cor da bandeira que ergueremos? Azul? Vermelha? Preta? Do arco-íris? Você decide.
“Brain Damage”
É o ar tóxico, parar de sentir o perfume das rosas e cair no “lado escuro”. Foi a primeira música que escrevi para o disco, é o núcleo de DSOTM: “Vejo você no lado escuro da lua”.
“Eclipse”
Foi a última, incluída no fim de um show em Bristol, na Inglaterra, em 1972, quando avisei à banda: “Pessoal, escrevi o fim!” Ela resume a ideia original: “Aqui está tudo que você toca, mas o Sol é eclipsado pela Lua”. A vida é um quebra-cabeças, da respiração ao eclipse. E as escolhas que você faz são só suas. Ah, me ocorreu outra lembrança que me emociona…
Qual?
As vozes adicionais que gravamos para o disco. Entrevistamos um monte de gente, registrando só as respostas. Colocamos um microfone no estúdio, na frente de uma mesa, e uma pilha de cartões brancos com uma pergunta no verso. Elas começavam inócuas, como “Qual sua cor favorita?”, até chegar, de forma aleatória, a “Você tem medo de morrer?”. Um de meus entrevistados favoritos foi Jerry, o porteiro de Abbey Road, onde gravamos: “Tasca que jamais terei medo de morrer!”, me disse. Outro foi o já falecido (guitarrista) Henry McCullough, que gravava no estúdio ao lado com Paul McCartney e os Wings. Para ele, apareceram duas perguntas consecutivas: “Quando você foi violento mais recentemente?” e “Você estava certo?”. E ele: “Ontem à noite” e “Não sei, tava muito bêbado”. Que lembrança preciosa! Descanse em paz, Henry.