In Memoriam
Morre Ronnie Rondell Jr., o homem em chamas na capa de “Wish You Were Here”

Morre Ronnie Rondell Jr., o homem em chamas na capa de “Wish You Were Here”

Com mais de 200 créditos em sua filmografia, é por foto em álbum do Pink Floyd que dublê e ator americano é mais reconhecido

Introdução

Ronnie Rondell Jr. possuía longa carreira no cinema, na TV e na indústria cinematográfica, com carreira iniciada em 1955 com papéis em acrobacias, elenco de apoio, assistente de direção em clássicos históricos e sucessos populares recentes. Apesar disso — e pela própria natureza de sua profissão — era um rosto relativamente “anônimo” e, ironicamente, na obra em que sua face mais “brilha” ela o faz literalmente: estava pegando fogo!

Aos 88 anos, faleceu no último 12 de agosto em uma casa de repouso no Missouri, EUA, de causa não informada pela família.

O Conceito

Storm Thorgerson, responsável criativo pelas capas e arte do Pink Floyd, acompanhou a banda em sua turnê de 1974 e pensou seriamente no significado das letras, eventualmente decidindo que as músicas eram, em geral, preocupadas com a “presença não realizada” ou, mesmo, ausência. O conceito por trás de “Welcome to the Machine” e “Have a Cigar” sugeria o uso de um aperto de mão (um gesto muitas vezes vazio).

Aubrey “Po” Powell, o parceiro de Thorgerson no estúdio de design Hipgnosis, teve a ideia de que as pessoas tendem a esconder seus verdadeiros sentimentos, por medo de “se queimarem”, e assim dois empresários seriam retratados apertando as mãos, sendo um deles em chamas. “Se queimar” também era uma frase comum na indústria musical, usada frequentemente por artistas que tiveram seus pagamentos de royalties 📙 negados.

Em uma época em que a computação gráfica NÃO era uma opção e efeitos práticos não convenceriam, a única alternativa para realizar as ideias, digamos… heterodoxas era com fogo real. E a dupla estava irredutível em seus conceitos. Pelo menos buscaram profissionais experientes.

Brincando com fogo

Sessão

Os trabalhos fotográficos ocorreram (apropriadamente) na área externa de um estúdio da “Warner Bros.”, na Califórnia. Por baixo do terno, Ronnie Rondell utilizava um traje à prova de fogo e uma touca abaixo de uma peruca também resistente às chamas. Ainda foi aplicado gel retardante de incêndios nele, mas tudo ainda o deixava preocupado, quase se recusando a fazer a cena, dizendo que “era mais perigoso ficar parado do que em uma cena de ação”.

Para os apuros de Ronnie Rondell e (menos) de Danny Rogers, seu colega de cena que NÃO teria o corpo incendiado, várias tentativas seriam necessárias para que a melhor tomada fosse escolhida posteriormente. Após 14 tentativas relativamente tranquilas, foi na 15ª que o vento alternou bruscamente de direção, causando queimaduras leves em seu rosto e tostando uma sobrancelha e metade de seu característico bigode. Embora para Rondell aquele tenha sido o seu limite, a perfeccionista equipe de criação o convenceu a mais algumas tentativas, porém com os lados invertidos, a favor do vento, pois a imagem da capa poderia ser invertida na produção.

O Acidente

“Ele se jogou no chão e toda a equipe se empilhou em cobertores para apagá-lo. Ronnie foi muito gentil sobre isso, considerando… mas, para ele, como profissional da indústria cinematográfica, era tudo uma questão de rotina.”
AUBREY “PO” POWELL

“Há uma coisa engraçada sobre o fogo: quando ele atinge seu rosto, você se move.”
RONNIE RONDELL

“Eu sabia que tinha conseguido uma foto especial. Demorei muito para convencer o Ronnie a ficar exatamente como eu queria, mas no final ele foi muito corajoso e a composição ficou perfeita.”
AUBREY “PO” POWELL

Versões

Aproveitando os múltiplos registros da sessão, países e/ou mídias diferentes receberam tomadas alternativas da foto e, posteriormente, em livros e exposições, mais versões e um making-of 📙 chegou ao público.

Vale lembrar que na cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Londres (2012) essa cena foi reproduzida durante a música “Wish You Were Here” (com Nick Mason na bateria). Em um evento assistido ao vivo por dezenas de milhões de pessoas, era conveniente uma pequena dose de cautela a mais e quem foi incendiado foi um boneco.

Carreira

Filho de pai (migrante da Itália) e mãe trabalhadores da indústria cinematográfica ainda da época dos filmes mudos, Ronald (seu nome real), aproveitou sua experiência na ginástica e como mergulhador da marinha para substituir os atores em cenas arriscadas a partir de 1955, ainda adolescente.

Entre os clássicos e sucessos em que trabalhou (frequentemente sem créditos), estão “Spartacus” (1960), “007 – Os Diamantes São Eternos” (1971), “As Panteras” (1978-1980), “Karatê Kid” (1984), “Comando para Matar” (1985), “Máquina Mortífera 1” (1987) e 4 (1998), “Predador 2″ (1990), ” Thelma & Louise (1991), “Um Dia de Fúria” (1993), “O Corvo” (1994), “Velocidade Máxima” (1994) e “Twister” (1996).

Apesar de já aposentado desde 2001, retornou para sua última aparição a pedido de seu filho mais velho, também chamado Ronald, que atuava como coordenador e supervisor de dublês na produção de “Matrix Reloaded” (2003), participando de uma complexa cena de perseguição de carros.

Legado

Em 1970, foi um dos três fundadores de uma empresa de dublês, a Stunts Unlimited, na Califórnia, referência mundial em treinamento e fornecimento desses importantes (e sub-reconhecidos) profissionais. A entidade prestou homenagem:

“Estamos com o coração pesado com a perda do último dos três estimados fundadores da Stunts Unlimited, Ronnie Rondell. Com uma classe única, Ronnie foi um mentor generoso cujos talentos estabeleceram o padrão para qualquer aspirante a dublê. Ele era profundamente respeitado, admirado e amado. Ronnie não era apenas uma lenda, ele era lendário e fará muita falta. A família pede que todos nós respeitemos sua privacidade neste momento e evitemos ligações ou publicações até que possamos compartilhar detalhes, em homenagem à sua vida e legado.”
FAMÍLIA DE R. A. RONDELL

Filho de um dublê, Rondell transmitiu a paixão pela profissão aos filhos. Em 1985, no entanto, enfrentou uma tragédia pessoal com a morte de seu filho mais novo, Reid Rondell, de apenas 22 anos, em um acidente durante uma acrobacia de helicóptero.

Além do filho, os sobreviventes incluem sua esposa de 56 anos, Mary; seus netos, Brandon, Rachel e Dalton; seu bisneto, Rocco; e seu irmão, Ric Rondell, gerente de produção em Hollywood.

Durante sua longa carreira, Rondell quebrou costelas, braços, pulsos e vértebras, deslocou o tríceps, sofreu concussões e teve os quadris substituídos e a coluna fundida.

“Você nunca contava a ninguém que estava machucado, porque eles sempre tinham outro cara que se ajustava às roupas.”
RONNIE RONDEL

10 de fevereiro de 1937
12 de agosto de 2025



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