População de Pedralva está em queda, aponta Censo 2022

Semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados do Censo Demográfico de 2022. Adiado um ano devido à pandemia e mais um por ausência de destinação de verba pelo governo federal, foi realizado no último ano após acionamento do STF. A análise dos dados é fundamental para entender as dinâmicas populacionais e guiar as políticas públicas.

Pedralva é uma das cidades que mais diminuíram no Sul de Minas: segundo comparação feita pela EPTV, é a sexta que mais perdeu moradores em números absolutos (menos 707, de 11.467 para 10.760) e a quarta a mais perder posições no ranking da região (caiu 11 colocações, de 69ª para 80ª).

^{* DADOS COMPARADOS PELA EPTV NO PERÍODO ENTRE OS DOIS CENSOS (2000-2022) PARA O SUL DE MINAS.}

População Brasileira

O Brasil continua crescendo, porém em ritmo desacelerado, foi a menor taxa de aumento de habitantes já registrada na história: 0,52% entre 2011 e 2022 (praticamente metade do crescimento registrado no levantamento anterior, 1,17%). Essa tendência já era esperada, com a diminuição das taxas de natalidade decorrentes do envelhecimento da população, mais acesso a saúde e educação e mudanças culturais, dentre outras. Porém, a própria estimativa do IBGE em 2021 indicava que o Brasil atingiria 213 milhões de habitantes, mas o número apurado de fato no ano seguinte revelou 10 milhões a menos: em 2022 éramos 203,1 milhões de brasileiros. O cálculo, segundo o instituto, foi prejudicado por não ter havido um levantamento preliminar em 2015, também por falta de verba, o que o obrigou a se basear no Censo de 2010, dando menor acurácia. Os efeitos da pandemia de COVID-19 no aumento da mortalidade e na decisão de casais em adiar o nascimento dos filhos também tiveram efeitos, embora seja difícil quantificar.

Sul de Minas

Um dado bastante relevante que o Censo de 2022 revelou foi uma tendência de diminuição nas migrações para grandes cidades e o crescimento de regiões menores, ou seja, uma interiorização da população. Especialistas apontam como causa principal a fuga de problemas de metrópoles, principalmente a violência, mas também custo de vida elevado (com aluguéis e deslocamento, sobretudo). Houve também uma inclinação à criação de oportunidades educacionais e profissionais em cidades menores graças à maior acessibilidade das atividades remotas, que tiveram seu desenvolvimento acelerado pela pandemia.

Estando em uma região central em relação às áreas mais densamente povoadas e com relativa boa estrutura de estradas, o Sul de Minas ganhou 167 mil novos moradores nos últimos 12 anos, um aumento de 6,14%.

Veja o aumento das principais cidades:

Cidade	População1	Crescimento2
Poços de Caldas	163.742	7,42%
Pouso Alegre	152.212	16,53%
Varginha	136.467	10,88%
Passos	111.939	5,31%
Lavras	104.761	13,62%
Itajubá	93.073	2,66%
Extrema	53.482	87,01%

^{1 dados oficiais do Censo 2022
2 em relação ao Censo 2010}

Pedralva

A cidade registrou 10.760 habitantes no Censo de 2022, uma queda de -6,17% em comparação com o Censo de 2010, quando tinha 11.467 de população residente. Já havia sido uma queda de -4,51% para o levantamento anterior, o Censo de 2000, quando foram contados 12.003 habitantes.

^{Variação 2000 a 2010: -4,51%
Variação 2010 a 2022: -6,17%}

Assim, Pedralva tem perdido uma média de 565 habitantes por década (um a menos toda semana, na média), destoando não apenas do crescimento do Sul de Minas, mas também na contramão de suas cidades limítrofes: todas cresceram (veja tabela abaixo).

Crescimento nas cidades que têm divisa com Pedralva:

Cidade	População1	Crescimento2
Santa Rita do Sapucaí	40.635	7,63%
São José do Alegre	4.133	3,43%
Cristina	10.374	1,61%
Conceição das Pedras	2.772	0,84%
Natércia	4.691	0,71%
Maria da Fé	14.247	0,22%
Pedralva	10.760	-6,17%

^{1 dados oficiais do Censo 2022
2 em relação ao Censo 2010}

No ranking de população, Pedralva está:

• na 339ª colocação entre os 853 municípios de Minas Gerais;
• na 842ª colocação entre os 1.668 municípios da região Sudeste;
• e na 2.856ª colocação entre os 5.568 municípios do Brasil.

 

A pesquisa do IBGE também aponta que Pedralva tem uma densidade demográfica de 49,36 habitantes por km² (23,8 em todo o Brasil) e uma média de 2,75 moradores por residência (muito próxima da brasileira, 2,79 em cada domicílio).

 

Variação Populacional 2010-2022 no Sul de Minas (Pedralva em destaque):

Motivos?

O IBGE coleta e divulga os dados, mas não faz análises detalhadas, então seria desejável uma pesquisa específica para descobrir os motivos de Pedralva estar perdendo habitantes enquanto cidades vizinhas e a região crescem.

Como as causas muito provavelmente estão direta ou indiretamente ligadas ao mercado de trabalho, devemos analisar uma característica atípica do munícipio: a maior parte da população é rural (51,49% pelos dados do Censo 2010, os últimos disponíveis):

Se a produção agropecuária (setor primário) vem crescendo no Brasil (veja dados abaixo), Pedralva não deveria ser beneficiada?

A resposta está no gráfico abaixo, também oficial:

Direto ao ponto: a produção está aumentando mas os empregos estão diminuindo.

Causas: aumento acelerado da mecanização (máquinas, equipamentos), especialização da mão-de-obra (trabalhadores qualificados rendem mais), uso de tecnologia (informática e acesso à informações poupam trabalho) e terceirização (certas etapas são deixadas com responsáveis mais eficientes).

Pedralva claramente não está acompanhando essa rápida evolução do mercado.

Mas, para onde estão migrando os trabalhadores rurais?

Houve, nos últimos anos na cidade, um aumento na oferta de empregos em indústrias (setor secundário), mas é uma área que – proporcionalmente – não abriga muitas vagas (28% da população segundo dados de 2016 do IBGE). Deve oferecer cada vez menos empregos também com o aumento da tecnologia e automação. O investimento em fábricas é altíssimo (necessita de todo um ecossistema ao redor) e, no caso de produtos de baixo valor agregado, vem perdendo feio na concorrência com os importados do sudeste asiático, muito mais competitivos. 

O grande empregador no Brasil é o setor de serviços (terciário) dentro da cidade (65% dos empregos no Brasil e crescendo rapidamente). Ao que tudo indica, Pedralva não está criando vagas nessa área, provavelmente está em desvantagem na concorrência direta com equivalentes nas cidades ao seu redor e sendo muito prejudicada com o aumento do comércio eletrônico.

E quais são as desvantagens de perder população?

Cidades menores são muito dependentes de um verba chamada “Fundo de Participação dos Municípios“, que tem entre seu principal determinante o número de habitantes averiguado pelo IBGE. Isso pode representar um problema porque muitas delas têm mais da metade do orçamento anual vindo desse repasse. A “Confederação Nacional dos Municípios” estima que 601 prefeituras vão receber menos dinheiro em decorrência dos dados do Censo 2022. Serão menos recursos para, por exemplo, saúde e educação. Como a redução será gradual, as prefeituras terão tempo para remanejar verbas e tentar compensar a perda de arrecadação por outras formas, como aumento do IPTU e de outras taxas.

Outro ponto importante é que cidades pequenas possuem proporcionalmente muitos trabalhadores no setor público e, no caso dos municipais, haverá menos dinheiro para manter as vagas atuais e/ou aumentar os postos.

“Será um impacto muito grande porque a nossa vida é no município.”

CARLA BENI (economista)

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